Regressor Instruction Manual

Regressor Instruction Manual: Capítulo 548

 

 

Não tinha certeza porque não tinha um relógio, mas parecia que já fazia quatro dias desde que chegamos aqui. Claro, isso era só uma suposição baseada na minha percepção. Dormia cerca de três vezes por dia, então provavelmente estava certo.

‘Estou com fome. Já é hora de comer? Quanto tempo faz desde a última vez que comi?’

Parecia que faziam pelo menos oito horas desde a última vez que comi. Vi que tinha comida e água, mas não sabia se podia me considerar sortudo.

Mas, vendo a quantidade de comida, assenti. Se comesse com moderação, esse tanto de comida duraria dez dias- não, talvez até mais. Se eu comesse o pão uma vez ao dia, gradualmente, provavelmente poderia fazer durar 30 dias.

Já tinha visto pessoas que sobreviveram apenas com água por semanas na Internet e na televisão, mas tinha comida que duraria bastante tempo, então minha situação era melhor que a deles.

No entanto…

‘Eles não tinham que enfrentar monstros…’

O perigo não eram apenas os monstros. Também estava em um ambiente que transformava humanos em monstros. Alguns estavam se matando por comida, enquanto outros haviam perdido a humanidade e estavam encurralando pessoas para matá-las por algum motivo.

Ontem mesmo ouvi pessoas brigando.

Não podia realmente dizer que ainda era humano. Tinha me tornado um monstro por ignorar tantas pessoas e fugir do pandemônio. Meu estômago parecia tentar abafar a vergonha que eu estava sentindo ao roncar incessantemente.

Foi nesse momento que ouvi uma voz de fora…

“T-T-Tem… A-A-Alguém aí?”

“…”

“P-Posso… entrar? Estou com muita fome e cansada. Por favor…”

“…”

“Por favor. Eu imploro. Por favor…”

Tapei meus ouvidos.

“A-Acho que tem monstros… por perto. Por favor, me ajude.”

“…”

Eu sabia que devia ajudar. Disse a mim mesmo que deveria ajudar e que não devia ignorar, mas meu coração ficou frio.

Eu tinha que sobreviver.

‘Esse espaço não é grande o suficiente para duas pessoas. Não tenho muita comida sobrando, e pode ser alguém ruim. Podem tentar pegar minhas coisas… Não, não podem… Tenho certeza que vão…’

“…”

“…”

A mulher pedindo ajuda desapareceu. Tinha certeza de que ela desistiu ou achou que não havia ninguém aqui dentro.

Ela poderia estar falando sozinha. Sim, provavelmente estava fazendo isso porque estava cansada. Olhei para cima enquanto mordia meu pão, mas não conseguia ver nada além de um teto escuro.

‘Não tive escolha.’

Não fazia ideia de quanto tempo mais teria que aguentar para que esse pandemônio terminasse, mas tinha que ficar aqui o máximo possível.

Precisava ser cruel para sobreviver. Na verdade, essa era a única razão pela qual eu ainda estava vivo. Fiquei quieto e enterrei as vozes que pediam ajuda no fundo do meu coração.

Outro dia passou, mas decidi não passar meus dias sem fazer nada.

Comecei a pensar porque sentia que teria um colapso mental se não começasse a pensar. Abria a janela de status e até adivinhava os gêneros das vozes baixas lá fora. Claro, não obteria uma resposta, mas isso me lembrava que tudo isso não era um sonho.

Ainda podia lembrar daquela voz me dizendo que isso era uma masmorra tutorial. Não fazia ideia do que aconteceria uma vez que acabasse aqui, mas era menos provável que pudéssemos voltar para casa. Desse modo, achei que talvez tivesse que subir de nível ou algo assim, mas como poderia pular no pandemônio se fugi dele em primeiro lugar?

Várias vezes ao dia pensava em sair, mas estava com medo. A visão de cadáveres rolando em poças de sangue e das pessoas gritando já estavam gravadas na minha mente.

Nunca realmente lutei antes, portanto, não poderia sair e enfrentar aqueles monstros como se estivesse treinando para isso a vida toda. Talvez tivesse mais coragem se tivesse uma arma, mas não havia como encontrar uma arma em um lugar como este.

Eu já tinha me livrado do escudo que usava antes de entrar nesse espaço. Era irracional enfrentar aqueles monstros sem uma arma.

No fim das contas, estava de volta à estaca zero. Comi um pedaço de pão e pensei em como seria bom acordar em casa no dia seguinte.

Parecia que mais um dia havia passado. Na noite anterior, ouvi pessoas sendo perseguidas por monstros e, obviamente, não me movi do meu esconderijo. Bloqueei a entrada, mas isso não garantia que os monstros não me encontrariam e entrariam no esconderijo.

“Autojustificação…”

Eu sabia que estava justificando minhas ações. Abaixei a cabeça pensando que não havia o que fazer.

Foi então que ouvi uma voz estranha…

“Acho que tem alguém aqui.”

“O que você está dizendo?”

“Fique quieto um segundo.”

“E-Está bem…”

“…”

“…”

Rapidamente, tapei a boca. Comecei a me preocupar que eles pudessem ouvir minha respiração. Por algum motivo, eles não pareciam amigáveis e provavelmente eram aliados com aquele tal de Jung Jin-Ho. Se descobrissem que eu estava aqui e que tinha comida, com certeza me atormentariam.

Não ouvi mais vozes, então pensei que já tinham ido como aquela mulher.

Exalei, mas…

“Viu, eu disse que tem alguém aqui dentro.”

“…”

“Acho que entraram por essa abertura. Que sorte. Está bloqueado, então provavelmente bloquearam por dentro. Acho que estão escondidos aí há muitos dias, então com certeza têm comida…”

“…”

“Eu sei que está aí, então não precisa se esconder como um rato…”

“…”

“Eu disse que sei que está escondido aí. Vai continuar se escondendo aí, hã? Tudo bem, vamos ver quem desiste primeiro. Não sei há quanto tempo está se escondendo aí, mas os monstros aqui fora nós os chamamos de Agwi.

“São muito bons em sentir o cheiro de cadáveres. Acontece que tem um monte de cadáveres aqui perto, e eu realmente quero ver quanto tempo irá durar se jogarmos esses cadáveres aqui.

“Quando eles se aproximarem, provavelmente vão sentir o cheiro também. Ou seja, vão descobrir que está aí dentro.”

“…”

“Viriam aqui para comer cadáveres, mas um humano vivo acabaria enchendo a barriga deles. Quanto tempo vai durar aí? Alguns Agwis são suficientes para quebrar a barricada de pedras. Nem pense que eles não podem entrar neste seu espaço…”

“…”

“Hoh? Não vejo outras saídas também. Tudo bem, divirta-se com os Agwis. Estamos indo agora.”

“…”

“Não se arrependa. Foi sua escolha.”

“…”

“Tudo bem, estamos indo.”

“E-Espera…! Espera. Estou aqui. Eu… estou aqui.”

“Isso mesmo.”

“Por favor, me poupe. Por favor… me poupe… não me ataquem. Eu só quero continuar-”

“Ninguém perguntou, e sinceramente, não estou interessado… Mais importante, quero ter uma conversa mais produtiva. Você tem comida, não é?”

“E-Eu não…”

“Parece que você é do tipo péssimo em mentir. Tudo bem, vamos fazer o seguinte. Vamos acreditar na sua resposta, já que sou um cara legal. No entanto, você vai ter que nos dar algo desse buraco de rato. Seja comida ou água, quero que nos dê o que tiver. Entendeu?”

“E-Eu realmente não tenho nada. De verdade… Eu não tenho. Não tenho armas, e p-perdi meu escudo… Eu realmente não tenho nada. Estou com fome também. Estou dizendo a verdade.”

“Se você não nos der nada, os Agwis logo virão aqui. Não encha apenas sua própria barriga, cara. Não gosto muito de falar, então vou te dizer mais uma coisa, cara. Eu não faço concessões.”

“Mas…”

“Vou te dar exatamente cinco segundos. Cinco.”

‘O que devo fazer? O que eu faço?’

“Quatro…”

‘Devo dar para ele? Devo mesmo?’

“Três…”

‘Se eu não tiver isso… o que vai acontecer comigo?’

“Dois…”

Não tive outra escolha, então decidi pegar dois terços da minha comida e empurrar para fora da pequena abertura junto com o saco.

“Bom trabalho. Fez a escolha certa”, disse o homem, parecendo satisfeito.

“Heuk…”

“Mas sabe…”

“Hã?”

“Isso não é muita comida…”

‘E-Esse desgraçado…’

“Acho que ouvi você mexendo em algo. Voce acha mesmo que sou um idiota?”

“E-Eu realmente não tenho muito. Isso é tudo que tenho, e nem vou durar três dias com isso.”

“Isso não é problema meu. Comida para três dias pode durar dez dias se você racionar. Você vai ficar aí, de qualquer jeito, não é? Precisamos de alimentos de alta caloria já que estamos matando Agwis. Você não precisa desse tipo de comida, não é? Nos dê mais. Não é como se eu fosse um idiota sem consciência. Se me der a comida restante, vou te dar uma arma. Que tal uma espada?”

“E-Eu não preciso.”

“Você não vai perder nada tendo uma arma. De qualquer forma, se ainda tiver algo, dê para nós. Porém, esta será sua última chance. Se eu não me satisfazer com sua oferta, este será o fim da nossa negociação. Pense em quem está em desvantagem entre nós. Garanto que morrer de fome é menos doloroso do que ser dilacerado por aqueles monstros.”

“…”

Decidi dar outro terço- não, a última frase dele me assustou, então não tive escolha a não ser dar metade do meu pão.

“Hum…”

‘Por favor…’

“Bem, isso é bom o suficiente, já que vai sair rastejando uma vez que ficar com fome. Vou te dar uma arma, cara. Não me sinto confortável dizendo isso, mas se ficar realmente difícil, você pode se matar com ela. Já vi muita gente fazerem isso.”

O homem me entregou uma espada que era um pouco mais longa que uma adaga. Seria mais apropriado chamá-la de adaga. Contudo, estava realmente ansioso para usá-la.

Não pude deixar de dar uma risada baixa para mim mesmo.

‘Desgraçado imundo.’

“Foi uma negociação satisfatória, senhor.”

“V-Você está indo agora?”

“Claro. Achou mesmo que eu ia te matar depois de pegar a maior parte da sua comida? Até mais.”

“…”

“O quê? A idade realmente importa aqui? Cale a boca! Já vi ‘crianças’ trabalhando com esse assassino. Quer falar sobre idade diante dessas ‘crianças’?”

“…”

Não sei o que aconteceu, mas parecia que ele teve um desentendimento com alguém do grupo. Ouvi alguém gritando furiosamente, e uma espada, assim como um pedaço de pão, rolaram em minha direção pelo pequeno buraco.

“Você deu sorte.”

“O que?”

“Meu camarada disse que ficou triste ao saber que está preso aqui. Fique aí por um tempo e saia quando se sentir confortável com isso. Se possível, não vá para o norte. Depois de matar alguns desses monstros, vai conseguir uma classe. Tenho certeza de que vai se acostumar com tudo isso. Enfim, os Agwis próximos já foram mortos. Adoraria te levar comigo se pudesse… mas estamos em uma situação ruim. Também não posso levar uma criança comigo…”

“Eu não sou… uma criança.”

“Quantos anos você tem?”

“Vinte e dois.”

“Nome?”

“K-Kim Hyunsung.”


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